O partido governista do Brasil entrou com uma ação contra o chefe do banco central do país, intensificando os ataques sobre o ritmo dos cortes de taxa e alegada parcialidade política.
Figuras importantes do Partido dos Trabalhadores (PT) do presidente Luiz Inácio Lula da Silva entraram com uma ação em um tribunal federal em Brasília na quarta-feira, solicitando que Roberto Campos Neto seja proibido de fazer declarações políticas.
A ação judicial veio um dia após Lula criticar publicamente Campos Neto, afirmando que ele “trabalha muito mais para prejudicar o país do que para ajudar” ao não cortar as taxas mais rapidamente.
“Só temos uma coisa errada no Brasil agora — é o comportamento do banco central”, disse Lula na terça-feira. “Temos um presidente de banco que não demonstra capacidade de autonomia… não há explicação para a taxa de juros [atual].”
A ação legal marca uma escalada acentuada na guerra de palavras entre o PT e o chefe do banco central, que vem se intensificando desde que Lula voltou ao cargo para um terceiro mandato no ano passado.
Eleito com promessas de reativar a maior economia da América Latina e melhorar as condições de vida dos cidadãos mais pobres, Lula tentou atribuir o progresso lento a Campos Neto — um respeitado ex-profissional da área financeira.
O banco central vem reduzindo gradualmente a taxa básica de juros Selic há quase um ano, diminuindo de 13,75% para 10,5%. Lula criticou o ritmo dos cortes por ser muito lento.
Lula e seu partido também acusaram Campos Neto de viés político após uma série de eventos que pareciam mostrar que o chefe do banco tinha ligações com políticos de direita proeminentes.
A ação judicial foi provocada por relatos de que o presidente do banco tinha participado de um jantar em sua homenagem organizado por Tarcísio de Freitas, o governador de direita de São Paulo e possível futuro candidato à presidência. Relatos da mídia citados nos documentos legais afirmam que Campos Neto foi oferecido um cargo em uma possível futura administração de Freitas.
O banco central do Brasil recebeu autonomia formal do controle político pelo congresso em 2021, e Lula deverá nomear um novo chefe quando o mandato de Campos Neto expirar no final deste ano.
Mas a disputa entre Lula e Campos Neto ameaça criar uma crise de credibilidade para o banco, pois os investidores temem que haja uma divisão política entre os membros do comitê monetário nomeados pelo ex-presidente do Brasil, Jair Bolsonaro — incluindo Campos Neto — e aqueles nomeados por Lula.
Estes últimos têm pressionado por cortes de taxas maiores, de acordo com atas da decisão de maio.
Marcelo Fonseca, economista-chefe da Reag Investimentos, disse que a disputa é “um ruído que torna muito mais caro gerenciar expectativas, prejudicando a eficiência da política monetária e aumentando os prêmios de risco nos preços dos ativos em geral”.
“É conveniente usar o presidente do banco como o vilão e a política monetária como a causa raiz dos problemas, em vez de reconhecer que a política econômica, especialmente a fiscal, precisa ser corrigida”, acrescentou.